O Trabalho Terapêutico e Clínico da Psicanálise
Para que serve a análise pessoal ou psicanálise? A prática da análise pessoal surge da necessidade do ser humano em ser ajudado em seus aspectos emocionais, anímicos e intelectuais em conflito. Os conflitos são desestruturações do aparelho psíquico que se manifestam como sintomas: fobias, medos, desinteresse, falta de ânimo, a partir de neuroses: repetição de atos que percebemos em nós (ou que não percebemos), mas que nos aprisionam por exemplo em relacionamentos destrutivos, empregos inadequados, atitudes autossabotantes, incapacidade para sentir-se espontâneo…
“Mas, não me sinto doente, somente sinto que não me relaciono bem com a vida e comigo mesmo, a análise é indicada no meu caso?” A psicanálise clínica não é um processo somente para quem é diagnosticado com alguma doença mental. Ela é um processo de autoconhecimento que leva a compreender melhor a si mesmo, e assim, amadurecer emocionalmente e viver melhor.
Como se dá a análise, e como ela funciona? Na relação entre analista (psicanalista) e analisado (paciente) forma-se uma relação subjetiva de onde pode-se interpretar o inconsciente do analisado, e assim fornecer compreensão e integração do Self do paciente (eu como um todo). No modelo médico, busca-se a eliminação de sintomas, já na psicanálise, a eliminação do sintoma é consequência da modificação na estrutura psíquica que deu origem ao sintoma. Ou, em outras palavras, uma modificação na dinâmica psíquica na qual o paciente se envolveu, e o que faz sentir-se e viver infeliz consigo mesmo e com os outros (no sintoma).
O que é o processo psicanalítico? O trabalho psicanalítico clínico é um método profundo de trabalho que visa compreender o “sentido” do nosso inconsciente, nossas motivações mais profundas, inconscientes, e assim chegar à compreensão (paciente junto com terapeuta) do sintoma no analisado. Na integração entre consciente e inconsciente (ou lado objetivo e subjetivo), adquire-se o alívio dos sintomas. Todos nós temos uma história de vida, o palco da nossa constituição enquanto sujeitos que somos hoje. Neste palco, tivemos nossos coadjuvantes: a família, o ambiente proporcionado por estas relações com as quais convivemos e aprendemos a ser e estar no mundo, entre eles – pais, irmãos, familiares, professores, amigos, enfim… O meio social é importante na análise, como também o é a cultura na qual estamos inseridos e a história a qual construímos desde que nascemos (e inclusive antes disso).
Como são as sessões? No trabalho clínico contemporâneo, as sessões têm duração de 50 minutos e a periodicidade vai depender da cada paciente, de cada caso. Também o trabalho clínico hoje, não segue rigidamente estereótipos encenados em Hollywood, onde o analista ficaria fora do campo de visão do paciente, que deita-se num divã e que fica falando quase sem ter interação. Hoje, a sessão é construída junto com o paciente, de acordo com as necessidades, podendo inclusive seguir este padrão clássico. De um modo geral, a sessão segue, de um lado, as expectativas do analisado (paciente), e de outro, as linhas de trabalho do analista (terapeuta), além dos objetivos e fase do trabalho. Aspectos como religião, fatores culturais e sociais são respeitados individualmente.
Qual a duração do tratamento? A duração do trabalho também é um ponto importante. A análise, diferente de técnicas de aconselhamento, leva o paciente a tomar suas próprias decisões, a estar mais consciente de suas escolhas e a agir com maior liberdade, espontaneidade e responsabilidade consigo mesmo. Mas atualmente, nossa cultura nos leva a sentirmos necessidade de resultados cada vez mais rápidos. No caso do mundo subjetivo, interno, o tempo é relativo. Mas, de qualquer forma, para se conseguir resultados profundos e sustentados é preciso tempo, e por isso, o trabalho analítico é um compromisso de longa duração.
Preciso de resultados rápidos, a análise pode me ajudar? Mudar interna e profundamente, com resultados mais efetivos, como se propõe a psicanálise, demanda tempo e muito trabalho de ambas as partes: terapeuta e paciente. É preciso ter em mente que um compromisso com sua análise é um “contrato” consigo mesmo, com seu amadurecimento emocional e psíquico, e que isso não tem tempo ou momento pra se começar e pela perspectiva que se oferece, deveria ser o quanto antes. Também, deve-se ter em mente que não se pode mudar tão rápido uma coisa que “criamos” e sobre a qual vivemos sustentando desde nossa infância. Por isso, a duração de um tratamento em psicanálise é indeterminado, varia de pessoa para pessoa, depende do andamento do processo e das necessidades de cada um, até onde se queira ir, ou do que se queira alcançar.
Como posso saber se conseguirei pagar minha análise? Em todos os aspectos de vida, os investimentos que fazemos são proporcionais ao ganho que pretendemos. E na terapia não é diferente. O valor a ser pago na análise é um aspecto importante tanto para o analista quanto para o paciente. O analista deve cobrar um valor que simbolize não só o valor de seu trabalho, de sua formação, de seu tempo de trabalho, mas também o custo do consultório, materiais, tempo de estudo de cada caso em que escreve relatórios fora das consultas, supervisão de casos, etc. O paciente, deve ter em mente, no valor a ser pago, um investimento em si mesmo. Além disso, seu compromisso consigo mesmo como um investimento em sua evolução pessoal, somado à sua dedicação, seriedade, perseverança e, sobretudo, coragem em iniciar a análise. A importância que se dá a si mesmo no tratamento analítico é refletida no dinheiro e em como se lida com o valor do investimento na terapia. O retorno é proporcional, como já mencionado acima, ao investimento: no autoconhecimento, no desenvolvimento de recursos internos para lidar com as situações da vida, com maior clareza e consciência de si, na aquisição de espontaneidade – coisas que não se pagam com dinheiro algum e que vão acompanhá-lo em toda sua vida.
Vale a pena investir na minha análise? Mensurar o custo ou valoração de um trabalho analítico é muito complexo. Na primeira sessão, analista e paciente assumem um “contrato”, ou seja, as regras sobre as quais seguirá o compromisso da dupla analista/paciente, no trabalho psicanalítico deste último. Definir o valor a ser cobrado ou investido, envolve aspectos encobertos de culpa, vergonha, entre outros. Mensurar o valor de algo, e principalmente do trabalho analítico, envolve simbolicamente, mostrar o valor que se dá a si mesmo, ou ao compromisso que se pretende assumir em favor de si, de querer ou não a análise, da sua resistência em não mudar.
O valor é sempre determinado pela dupla psicanalista e psicanalisado (em conjunto), tendo como base um equilíbrio entre as possibilidades, tanto do paciente como do analista, em manter o tratamento pelo período que for necessário.